30 Anos de Teatro Navegante: Uma Jornada de Dedicação e Transformação

Três décadas de dedicação e transformação marcam a trajetória do Teatro Navegante, que celebra seu trigésimo aniversário em 2024. A história da companhia, na verdade, teve início em 1990, quando Oscar Alberto Nardi, mais conhecido como Catin Nardi, chegou ao Brasil na cidade de Nova Almeida, no Espírito Santo.

Nascido na Argentina numa família de imigrantes italianos, Catin veio para o Brasil, aos 23 anos, já com uma bagagem nos teatros universitários e independentes, mas só aqui se especializou no teatro de bonecos, mais especificamente nas marionetes de fios. Isso teve início por meio de uma pesquisa realizada por Catin ao que se somaria o artista Renato Coelho Guimarães, assim, juntos, iniciaram à jornada do espetáculo “O Catavento”, que, em 1994 daria origem à companhia “Teatro Navegante”. O espetáculo circulou em festivais e teatros no Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, Rio grande do sul e em várias cidades da Argentina.

Antes do início desse trabalho Catin foi discípulo do grande marionetista Álvaro Apocalypse e o destino o trouxe para Minas Gerais onde aprimorou sua arte.

Dessa forma, Catin foi para a capital mineira com sua caixa de Teatro Lambe-Lambe, com a qual ele apresentava um número musical de Tom Waits, assim ficou conhecido em bares e restaurantes na cidade e até hoje é reconhecido por suas apresentações itinerantes. Belo Horizonte resultou em obras autorais, como “Pocket Show Marionetes”, um espetáculo influenciado pelo seu gosto musical e por uma pesquisa sobre mecânica nos bonecos os quais tem particularidades técnicas únicas, que resultam em esquetes de apresentações circense, musicais e poéticas, como os bonecos Lutadores de Sumô; Togo, o pernas de pau, cuspidor de fogo; o solo de marionete onde ele monta um boneco em cena, Alfredo, o Duende Gaitista, entre outros números únicos.

Dentre as várias montagens, outra que se destaca é o “Que Bicho Será”. Em parceria com o autor Ângelo Machado, o espetáculo infanto juvenil conta a história sobre animais de uma fazenda que resolvem vários mistérios.

As marionetes dessa obra marcam o desenvolvimento técnico de Catin, que, por meio da experiência de trabalhos artísticos anteriores, desenvolve marionetes jamais vistos antes usando as formas orgânicas e únicas das cabaças, matéria prima para essas marionetes.

Essas produções são marcantes na história da companhia e deram origem a trabalhos com a Rede Globo de TV. Em 2001, um dos marionetes do “Pocket Show” realiza a abertura da novela “As Filhas da Mãe”, e, a convite de Hans Donner, para a minissérie “Hoje é Dia de Maria”, de 2005 a convite de Luiz Fernando Carvalho, os animais a que Maria, protagonista, tem seus momentos felizes associados.

A mudança de Catin para Mariana, em 2005, marcou uma nova etapa, com a abertura de um espaço cultural, que se tornou um ponto turístico na cidade. Localizado ao lado da Praça Gomes Freire, o espaço promovia visitas guiadas e apresentações aos turistas da cidade. Ali eram exibidos todo o processo de construção de uma ampla variedade de tipos de bonecos desenvolvidos pela companhia. O local também servia como ateliê promovendo uma visita ainda mais próxima de todo esse processo.

Essa proximidade com os turistas permitiu um emocionante reencontro de Catin com a família de seu avô, imigrante italiano que se mudou para a Argentina, durante a Primeira Guerra Mundial. Essa grande descoberta impulsionou a primeira turnê de Catin na Europa. A ida à Itália resultou no reencontro com sua tia-avó e também na primeira circulação do “Pocket show” em vários festivais europeus por onde ele se apresenta ano após ano.

Em Mariana, surge também o “Bloconeco”, uma criação realizada a partir da necessidade de ter um mascote para seu ateliê (Amendoim, o primeiro boneco do bloco) inspirada nos tradicionais bonecos gigantes italianos e na busca de um contraponto estético e do tamanho dos incríveis bonecos tradicionais do Zé Pereira da Chácara de Mariana, os primeiros bonecos gigantes do Teatro Navegante, uma série de bonecos que participaram, e participam até hoje, de carnavais, festivais, feiras de negócios, eventos esportivos, programas de TV, e já se caracterizaram das mais diversas formas, seja as várias versões carnavalescas, time de futebol para a copa do mundo, Papai Noel entre outras. Com o Bloco, o Teatro Navegante encantou muitas cidades em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Espírito Santo e Brasilia durante programações culturais de SESCs, Prefeituras Municipais e ações de endomarketing em empresas.

Nos 16 anos que permaneceram em Mariana, a companhia realizou projetos significativos, como o “Mambembe Moderno”, primeira ação realizada com apoio direto da Petrobras, que permitiu a criação e apresentação de novos espetáculos por diversas cidades. Os projetos “Teatro Aprendizado” e a “Escola Livre de Teatro de Bonecos” também foram iniciativas da companhia. Este último, resultou no espetáculo “O Organista”, uma peça que brinca com figuras históricas de Minas Gerais, das cidades de Ouro Preto, Mariana, Araxá, São João Del Rei e elementos importantes para a história da região, como o Órgão da Igreja da Sé de Mariana.

Dentre as técnicas desenvolvidas por Catin, está a de bonecos de garrafa pet, que foi aprimorada, em Mariana, para oficinas profissionalizantes, que originaram ou insentivaram outras companhias teatrais de vários artistas. Com a finalidade de divulgar o resultado dessas oficinas, surge, em 2006, a Mostra Internacional de Teatro de Bonecos de Mariana, que durante mais de 10 anos difundiu a arte do teatro de bonecos, com apoio da comunidade e de patrocinadores, como a Petrobras, UFOP, Samarco, Instituto Iberescena, Prefeitura de Mariana entre outros.

Os anos recentes foram marcados por desafios, incluindo o impacto do rompimento da barragem de Mariana, em 2015. Apesar de tentativas de mudança para Ouro Preto, a companhia enfrentou o fechamento do espaço cultural. No entanto, as produções continuaram circulando, e, em 2019, a terceira turnê européia foi realizada.

A pandemia de COVID-19 trouxe mais desafios, interrompendo as atividades presenciais. A companhia respondeu com oficinas online, refinamento da técnica e tecnologia dos bonecos de pet, além de projetos de apresentação online, enfrentando esse momento de dificuldade. Em meio a essa reestruturação, a sede administrativa e a maior parte da equipe de colaboradores permanecem em Mariana, enquanto um espaço no município de Nova lima em Macacos foi aberto, em 2021, para apresentações e oficinas.

As apresentações e turnês internacionais foram retomadas, em 2023 com um precurso em 7 estados do México no mais importante circuito de festivas de bonecos e o retorno da Mostra Internacional de Teatro de Bonecos que foi possível, após 7 anos de hiato, ocorrendo nas

ruas de Mariana e, pela primeira vez, na cidade de Macacos.

A 12ª mostra internacional de Teatro de Bonecos homenageia nestes 30 anos o artista Renato Coelho como uma sinopse, pois ele viu e vivenciou os primórdios de esta aventura que navega eternamente. É também uma homenagem a todas as pessoas que contribuíram para esta trajetória e participaram com carinho e muito esforço encantados pela magia dos bonecos e expressamos nossa gratidão às famílias, amigos e parceiros que compartilharam conosco esses 30 anos de narrativas inspiradoras. Desejamos que esta jornada prossiga encantando a quem comovemos ao longo de muitos anos e ao futuro promissor que nos aguarda. Viva o teatro, e um brinde aos nossos 30 anos de trajetória!